segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sintonia.


( ... ) Tinha alguém que vez ou outra nos encontrávamos. O sexo era péssimo. Nunca combinamos neste quesito. Mas, eu sempre voltava a sair porque ela gostava de conversar por horas depois, agarrada à mim, enquanto passava os dedos entre os pêlos do meu peito. Nunca ficávamos de frente ao outro. Era sempre assim. Ela falando ao meu ouvido – uma mão em meu peito, outra sob o rosto. Achava suave a sensação do calor do corpo, e da conversa. Falava até adormecer. Ás vezes me fazia rir. Outras me deixava pensativo. Geralmente eu não falava, não argumentava – o que é raro para mim. Bom mesmo era ouvir suas tantas histórias. Admirava a forma de pensar (mesmo quando não concordava). Admirava ouvir as coisas pelas quais ela era apaixonada. Admirava sua melancolia tão bem disfarçada. Admirava a forma com que ela brigava com os próprios pensamentos. Talvez porque eu brigue tanto com os meus, encontrar alguém parecido dá uma sensação de conforto – de identidade, de reconhecimento, de lugar seguro.
Esses dias em que fiquei doente, e passei bastante tempo quieto, me lembrei dela. E, fiquei pensando o quanto é díficil para mim encontrar alguém com afinidade de pensamento, que me faça querer parar a vida só, e tão somente, para ouvir. Por mais que me esforce, não consigo essa sintonia nem com pessoas muito próximas. Gosto de falar e gosto de ouvir. Mas, há sempre um fator de estranhamento, de não encaixe entre mim e grande parte das pessoas. A dificuldade é minha, não dos outros – sei bem disso. Então, chega a ser irônico ter encontrado isso em alguém com tão pouca afinidade em tantas outras coisas. E, foi justamente essa falta de afinidade que nos afastou naturalmente. Sem traumas, sem cobranças, sem questionamentos porque sempre soubemos que nossa equação perfeita era no encontro de idéias, na conversa, e não na relação amorosa.
Depois de tanto tempo (anos), ainda me fascina essa sensação de identidade. Sempre me fascina esse encontro que me faz querer parar o mundo só para ouvir o que alguém tem a dizer. Sem compromissos, nem promessas. Só ouvir enquanto – com sorte – brinca repetidas vezes com os pêlos do meu peito.
Não é bom? Já aconteceu com você? Apesar de raro, às vezes a gente esbarra pela vida com criaturas assim.

Musica de hj: "Sorriso Maroto - Em Suas Mãos (ao vivo)"

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