segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Esqueça de mim.



Enquanto a provo, hoje, ao menos uma vez na vida, quero que você esqueça de mim, esqueça do mundo e só pense em você.
Quero que, enquanto me dedico em línguas, você seja uma felina egoísta, enquanto eu serei um homem servil à sua delícia.
Quero unicamente poder, abrir os botões da minha camisa de linho branco para tomar a brisa fresca no meu peito. Com o mesmo ímpeto que com atos decididos te despi.
Então, procure descuidar de mim. De mim eu mesmo cuido, neste instante. (ou depois)
Preocupe-se apenas em achar a posição mais cômoda no sofá ou na cama, o jeito mais relaxado para as tuas pernas afastadas, a distância mais natural entre os lábios entreabertos, para deixar escapar os gemidos, só aqueles que saírem sozinhos, com vida própria, sem o controle daquilo que nos faz o dia inteiro falar bobagens sem sentido.
Os gemidos, importantes nesse idioma puro e delicado de “ais”.
Que minha saliva e seu sexo façam a sinfonia quase inaudível do visgo numa mistura única de suas químicas.
Que seu prazer escorra para minha garganta e me alimente.
Mas não quero que cuide de me alimentar, como uma cuidadora...
Não quero que cuide de nada a não ser de você mesma.
Agora, o seu prazer é o meu mundo, e ele é mais dono de você que você dele, e você mais dona de mim que eu mesmo de todos os meus gestos.
Segure minha cabeça com as duas mãos, assim, como se preferisse que eu estivesse todo dentro de tí, a apreciar um mundo novo, Alice no País das Maravilhas,
Deixa a lua cheia que vai lá fora contornando o horizonte mais pálida diante de tanto amor.
Mas ignore o que eu vejo e o que possa vir a ver.
Faça como se eu estivesse cego e cego estou.
Seus olhos sejam os meus olhos.
Guie-me.
Não. Arraste-me para seu elemento, como o peixe é arrancado violentamente da água para o ar pelo anzol que o rasga.
E que eu respire: as mesmas atmosferas que passaram por seus pulmões.
Compartilhe minha morte, minha vida.
Não se questione se estou de mastro ereto ou não,
se isso é bom ou ruim pra mim,
se o seu gosto é gostoso para minha boca,
(embora eu garanta que sim)
Se possível, despreze o que eu sinto.
Se necessário, esqueça que é um homem que de joelhos aqui, adorando-a, aqui e poeta.
Pense, se preciso for, numa coisa, numa coisa feita pra gratificá-la e venerá-la com esta boca, com estas mãos, com esse corpo.
E acima de tudo, não questione isso que lentamente se constrói por dentro e a que você se entrega como fêmea.
Teste-me com a curiosidade cruel de quem só acredita em si mesma,
De quem acredita que o universo foi feito para si e gira em torno de seu prazer.
Descubra se eu sangro e se meu corpo registra marcas.
Me arranha se sentir vontade.
Corte-me se sentir vontade.
Acaricie-me se sentir vontade.
Mas não pergunte se eu gosto.
Nesses minutos não é o que eu gosto ou desgosto que interessa.
Entenda que o cosmos desandaria se isso mudasse.
A salvação das almas depende apenas de seu exato desejo exatamente satisfeito e qualquer coisa diferente disso seria o fim.
Com cuidado e desmazelo trilho com a língua por seu corpo - lindo - e por seu sexo - lindo - ora louco ora filósofo.
Sou um selvagem e você precisa me domar com os calcanhares em minhas costas, pois não entendo mais palavras.
Não tenha medo de ser dona.
Seu sabor promove-me a homem sábio. Por isso, nada me fere.
E tudo que vem de você é bom.
Dê aquilo que sentir que é para dar, mesmo que sejam cicatrizes.
As ostentarei como acessórios do seus caprichos, não carregados por você, mas por meu corpo na carne, por dentro, para sempre...
E, finalmente, esqueça até de si mesma, como quem vira vapor e como vapor que vai ao céu, vira nuvem, chove e se dilui no oceano.
Deixe que ao menos um pouco de você misture-se em mim. Até que nós dois não sejamos gente, não sejamos bicho, não sejamos coisa alguma, sejamos só sentimento.
Sejamos o quase nada que subentende, o quase tudo que nos cerca,
o centro da existência, um lençol molhado de suor.
Nele jazem dois corpos, unidos pelo que vem da terra, passa por minha boca, atravessa todo o seu corpo e atinge o céu de três estrelas,
em direção a nossa própria e deliciosa perdição.


( Musica de hoje: Ronan Keating- When You Say Nothing At All )

Um comentário:

  1. Essa tua essencia e delicadeza nos sentimentos, é o que te faz unico! E especial sempre! Bj (Y)

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